quinta-feira, 8 de maio de 2014

Angústia


 
Cresce em mim uma angústia desesperante que os dias de chuva não levaram com a sua tristeza dos dias de Abril.
 


Esta primavera com sabor a Verão tem-me sabido bem. Tem-me trazido uma falsa felicidade. Não será sempre falsa? Ou falsas, as ilusões. Tudo muda num segundo, ou pode mudar.
 
Cresce em mim a angústia de perder. Perder aquilo que tenho, aqueles que amo, o mundo como o conheci. Tenho pensado para mim que a informação está a dar-me cabo do juízo. A informação da Internet, dos jornais, das televisões, das redes sociais. Informação, informação. Drama e mais drama. E depois, a ironia: eu própria fiz essa informação, um dia.
 
É possível viver assim? É possível viver sempre na ânsia de perder, porque conhecemos o vazio, a tristeza e a dor? É a dor dos outros, sempre a dor de desconhecidos, quando vemos, ouvimos e lemos a informação de fora. Mas quando nos toca? O mundo desaba, deixamos de ver, de ouvir e de ler. As pernas tremem, o coração acelera e deixamos um pequeno animal nervoso, cessando o seu ladrar impertinente para nos olhar, curioso, com os olhos tristes e brilhantes.
Está tudo bem, digo-lhe. Tudo bem. 
Outra mentira, outra ilusão. Pessoalmente, não preciso que me falem de dramas para ser dramática. A tragédia corre-me nas veias e preciso frequentemente de encontrar o meu refúgio. Hoje encontrei-o. Ainda não foi hoje. E repito:
Está tudo bem.
Desta vez, é verdade. Ainda nada mudou. Ainda não há um problema definitivo. Ainda existe uma solução. Vou acreditar nela, durante o dia, mas sei que, em algum momento dos meus sonhos, os pesadelos vão regressar e recordar-me de que não posso distrair-me.
Tens de continuar a preocupar-te, diz-me a voz dos sonhos. Tens de te preocupar.
Não me parece que faça outra coisa. Faço sempre isso, quando a minha mãe me envia uma mensagem em horas pouco habituais, ou me telefona com voz de constipada. O coração salta-me no peito.
Estou constipada, filha, quero que me diga. Só quero que me diga isso. E por vezes, diz. Por favor, continua a dizê-lo. Por favor, não me tires o chão. É só uma constipação. Vai passar.
Onde fica a vida? Onde fica o sonho? Onde fica o futuro? Conseguirá alguém continuar a viver sabendo o que de pior acontece aos outros? E no meio de tudo isto, tenho de continuar a sorrir, porque amo a vida. Amo os meus amigos, os meus familiares, o meu trabalho e os meus meninos da ginástica, que me dão tantos sorrisos. Amo as palavras, amo os livros, amo aqueles que conheci através deles. No meio disto tudo, tenho de acabar por aqui. Tenho de voltar a sorrir, voltar a escrever, voltar a esperar. Porque sem esperança, não acredito mesmo que possa viver.

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