quinta-feira, 3 de abril de 2014

Opinião - «Nas teias do poder» - Fernando Teixeira

«Nas teias do Poder» é o primeiro livro, creio, do jovem autor Fernando Teixeira, que o escreveu quando tinha apenas dezasseis anos. Arrisco dizer que foi demasiado cedo. É uma história com apenas 96 páginas que me custou mais a ler do que muitas de 600.
 
 
Até a meio do livro, não percebi, sinceramente, qual era a história. Penso que não existia. O que lia eram apenas fragmentos de pensamentos do autor, sem contexto, nem nexo, divagações imperceptíveis sobre a actualidade no geral. A partir do meio do livro, continuei sem perceber a história, se era um surto de gripe no País, se era uma crítica social à actualidade política, com um aprofundamento muito fraco, um romance entre a fictícia ministra da saúde e o seu grande amor René, ou ainda um romance policial, quando este último tenta vingar-se pelo facto de Marisa o ter abandonado e acaba por raptá-la.

Para além de a estrutura/enredo não funcionar, pois não existe uma ideia de história definida, tudo foi escrito muito à pressa. Parecia que o autor estava a desejar terminar o livro, sem nunca o ter começado. O romance entre a Marisa e o René, por exemplo: no mesmo dia, ele passa de convencido a um santo que merece pena, contando a Marisa fragmentos do seu passado que nunca poderia ter contado com total indiferença e falta de tacto a uma desconhecida. E no mesmo dia, beijam-se e passam a amar-se. O último diálogo entre ambos parecia uma conversa de final de história, quando era a primeira vez que se falavam. Achei surreal. Depois, as incoerências e um afastar da realidade que tornou os acontecimentos algo ridículos, a meu ver.

Alguns exemplos:

- Um paciente em falência hepática chega ao hospital, é prontamente levado ao bloco de cirurgia e nem meia hora depois já tem o órgão compatível de que necessita para fazer um transplante. Era bom que assim fosse, mas existem listas de espera intermináveis nestes casos e muitas vezes não chega a haver compatibilidade, nem órgãos disponíveis;

- Pessoas a entrarem a gritar pelos corredores do hospital e terem acesso aos blocos cirúrgicos;

- Enfermeiras a gritar nos corredores com um intruso cidadão ao lado (que entrou no hospital e dirigiu-se logo a uma enfermeira - não existem recepções/cartões de visita?) - Ninguém pode entrar assim num hospital - como estava a dizer, enfermeiras a gritar pelo cirurgião e este a aparecer em seguida para tratar de um doente com gripe;

- Uma ministra da saúde que trata os outros abaixo de cão e que não faz mais nada, senão jogar solitária o dia inteiro no seu escritório, com uma poltrona por debaixo do rabo e com o ar-condicionado ligado no máximo, só "por descuido ou porque o seu salário o permite"... Compreendo que o autor tentava aqui fazer alguma crítica social ao País em que vivemos, mas não soube fazê-la. Não me parece que seja o método adoptado pela nossa ministra.

- Uma secretária de ministra que sai a correr em busca da ministra e que, no percurso, ao invés de pensar em algo relacionado com o sucedido, pensa em como desejara um dia ser atleta de alta competição e como os apoios no nosso País são escassos para todos os desportistas (penso que o autor queria aqui exaltar talvez alguns dos seus próprios pensamentos, como penso que fez ao longo do livro com todos os personagens, o que fez com que nenhuma das personagens tivesse carácter - todos tinham fragmentos do carácter do autor);

- Um René que, num capítulo que não tem razão de existir, vai ao psicólogo para se anunciar louco e em que o dito psicólogo o apalpa...onde? não compreendi a razão disto e dos pensamentos posteriores do psicólogo que não aparece mais...para não falar que o René saiu de casa onde mantinha cativa Marisa entretanto - o leitor não sabe como. (Confuso).

Tudo o resto foi uma sequência de acontecimentos envolvendo ladrões e polícia que mais parecia um filme, tudo tão rápido que só tive tempo de arregalar os olhos com a surpresa.

Cheguei cansada ao fim do livro, isto porque aquelas míseras páginas pareciam não ter fim. Peço desculpa ao autor, que escreve, apesar de tudo, quase sem erros e de forma fluída, mas a história e os personagens não resultaram. Acho que a obra é fruto de alguma imaturidade. Penso que, para primeiro livro, o autor deveria ter escolhido um tema com o qual se familiarizasse, desporto, talvez, já que é jornalista desportivo. Espero que o autor possa procurar leitores-beta que o ajudem a melhorar os seus futuros trabalhos.

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