sábado, 5 de abril de 2014

Opinião - «Memória das minhas putas tristes» - Gabriel García Márquez

Ok, que livro estranho. Tem, na sua maioria, boas classificações, o que me leva a pensar: Será que é falha minha? Foi o primeiro livro que li do autor Gabriel García Márquez e estava há tanto tempo na estante que pensei: é desta.
 
 
 


Confesso que a leitura me desiludiu um pouco. A escrita é boa, embora, na versão que li, não se faça distinção entre um diálogo e o texto corrido, nem com travessões ou sequer itálico. Admito, no entanto, que me foi fácil perceber a quem pertencia cada voz. Este é o mal menor.

Acho que o mal está na história: um velho jornalista decide, no dia do seu 90.º aniversário, dar um presente a si mesmo e desflorar uma virgem no bordel da sua velha amiga Rosa Cabarcas, onde passou tantas noites da sua vida, visto ser um homem que nunca casou, dedicando-se inteiramente às artes do sexo, por entre os lençóis das suas "putas tristes". E triste é a história, também. A sua velha amiga acaba por arranjar-lhe uma virgem de catorze anos que, de tão assustada pela sua primeira vez, tem de ser sedada e o velho jornalista encontra-a sempre a dormir, dessa e de todas as outras vezes em que a visita.

A minha pergunta é: Porquê, meu Deus? E esta pergunta serve para muitas coisas: Porque é que que um velho de noventa anos quer desflorar uma virgem? Não se chamaria a isso pedofilia, mesmo que a virgem seja uma puta? Compreendo os motivos dele, dado o seu carácter sempre leviano, mas porque não outra mulher qualquer?

Ponto dois: se o autor escolheu mesmo uma virgem, pela qual o jornalista acaba por se apaixonar (não pelo que Delgadina, como a chama, é, mas pelo que parece, nua e jovem a dormir ao seu lado, visto que nunca chegam a conversar, ou a olhar-se, sequer) porque é que ele nunca chega a apanhá-la acordada? O medo da sua primeira vez tinha de desaparecer, eles tinham de manter um diálogo, uma interacção, uma química, mas nada disso acontece. Este velho a quem Rosa Cabarcas intitula de sábio mantém uma paixão platónica pela miúda de catorze anos que não passa disso mesmo, e aproveita-se dela enquanto dorme, seja com beijos e carícias, seja com histórias que lhe conta e músicas que lhe canta aos ouvidos. Depois ainda lhe chama "puta" alto e bom som, quando pensa que ela já não é virgem, e Delgadina continua sem lhe responder ou olhá-lo, limitando-se a encolher-se, enquanto ele tem um ataque de ciúmes, quando a rapariguinha nunca foi dele e, convenhamos, jamais poderá ser. Começo a desconfiar que Delgadina nunca existiu, senão na mente do velho jornalista.

E pronto. Fim de história. Delgadina nunca chega a acordar e ele fica à espera da morte, sem nunca ter conhecido a mulher por quem platonicamente se apaixonou.

Isto foi estranho, principalmente se tentarmos imaginar a história pela cabeça de um homem de noventa anos, apaixonado por uma miúda de catorze que só existe nos seus sonhos. As minhas duas estrelas vão para a escrita do autor, que é bonita e fluída, mas a história não me cativou. Foi aborrecida e confesso que estava a desejar que as páginas terminassem.

0 comentários:

Enviar um comentário

Fotografia

As fotografias são da autoria de Rui Canelas.
Com tecnologia do Blogger.

© Carina Rosa , AllRightsReserved.

Designed by ScreenWritersArena