sábado, 9 de agosto de 2014

«Encontro em Itália» - Opinião

Bem, por onde começar? Este livro causou-me sentimentos ambíguos: Começou muito bem, com aquela parte contemporânea arrebatadora que me fez entrar no livro de cabeça. A Liliana tem este dom: arrastar o leitor para o seu mundo, levá-lo a esquecer-se de onde está e fazer tão parte da história como qualquer um dos outros personagens. Tudo, desde o pedido de amizade de Henrique a Sara, me viciou e me deixou presa àquelas páginas. Eu, menina dos romances contemporâneos, não pude resistir ao amor que toda a história prometia e confesso que adorei os dois: o Henrique, no seu lado calmo e sensato, e a Sara, a chama acesa, mas também Pedro, um cómico com algumas saídas muito engraçadas, a Bia, com uma personalidade viva que a leva a ser frontal de uma forma especial, e até Olga e André: amei estes dois. Sou fã de badboys e badgirls e eles estavam excelentemente caracterizados. Aquela cena na praia entre os dois está simplesmente perfeita e confesso que o André, com aquela sua obsessão pela Sara, sempre me fascinou: um homem rude e agressivo, que se torna um anjo perto dela. A Liliana é muito boa nestas cenas fortes.
 
 
Tenho de admitir, por outro lado, que detestei a Isabel: uma cópia da Sara e um pau mandado, sem personalidade e vontades próprias. Só a explicação final das suas atitudes me levou a tolerá-la ligeiramente.
Quando Henrique chega a Portugal, vê a nova Sara e conhece Isabel, a irmã dela, a coisa caiu-me mal: revoltou-me um bocado que ele se sentisse atraído por ela só pelas semelhanças que tem com a irmã e irritou-me o facto de nem se interessar em saber o motivo pelo qual Sara mudara tanto. É claro que tudo isto tem uma explicação mais à frente e eu agradeci mentalmente à Liliana por isso, mas a verdade é que aquilo que senti na altura não se apagou e custou-me. Desiludi-me com o Henrique e com a sua falta de tacto. Depois, esperava outro reencontro, mais intenso, mais verdadeiro, mais tudo...eu sei que eles estiveram sete anos separados, mas a minha visão romântica das coisas não pôde deixar de se recriminar pela forma como tudo acontecia. No entanto, tenho a dizer que a entrada da Isabel em cena fez com que eu temesse pelo amor entre os dois personagens principais e isso é bom! É o que se quer!
Acordei do livro, por assim dizer, quando a viagem a Itália se inicia. Deixei-me aborrecer nesta parte: a distância que existia entre Henrique e Sara, quando eu só queria que falassem do passado e de tudo aquilo que ficou por dizer, não ajudou. As discussões intensas, a atitude estúpida do Henrique...tudo me magoou...e confesso que com tudo isto, já me tinha esquecido que isto era uma história sobrenatural. E é aqui que entra o livro e a gata que fala: Haari. Acho que, com o esquecimento e no meio do sofrimento que sentia por Henrique e Sara, não estava preparada para isto. O sobrenatural custou-me a entrar, quando a parte contemporânea estava tão boa, e o que senti a partir daqui foi um pouco estranho: era como se estivesse a ler duas histórias distintas, sem grande interligação; quando os problemas de uma ainda não estavam resolvidos, entraram os de outra e eu dei por mim a desejar regressar ao Palhinhas, a André, a Paulo e a Bia, a minha zona de conforto onde tinha sido tão feliz no início da história.
É quando Henrique e Sara regressam a Portugal que a acção recomeça e, entre partes contemporâneas e sobrenaturais, dei por mim a entender o encaixe de cada ponta solta e a adorar o livro, mais uma vez. Apaixonei-me pela Haari, pela nova relação entre Sara e Henrique e por todos os problemas que existiam entre este mundo e o outro. Confesso que li as últimas páginas sofregamente, com medo do que pudesse acontecer! Suspirei de alívio quando o final foi exactamente o que eu esperava: lindo! Só senti falta da Bia e do Paulo: queria muito que se entendessem! Talvez num próximo volume?
Obrigada, Liliana, e parabéns por mais esta história e este mundo para o qual me arrastaste e para o qual me deixei ir de livre vontade, onde fui muito feliz. Outras obras se aguardam e...nunca deixes de escrever! :)
 
Deixo abaixo um excerto da obra, de uma das minhas cenas preferidas:
 
 
- Neste momento, o que me preocupa é que, de forma inconsciente, possas estar a olhar para a Isabel e a ver a Sara. E que talvez tarde demais descubras que a semelhança entre as duas se limita ao que o espelho mostra. A Isabel não é a tua amiga de infância; não foi com ela que aprendeste a ler e a escrever; não foi com ela que construíste a casa da árvore que ainda hoje está no jardim; e não é ela que está a precisar de ti neste momento". 

Read More

quarta-feira, 21 de maio de 2014

«Um dia perfeito» - Nora Roberts - Opinião

Uma leitura agradável, mas com um final um pouco apressado, a meu ver. A própria relação entre Mackensie e Carter foi demasiado fugaz. A forma como se encantaram, envolveram e apaixonaram foi repentina e faltou-lhes credibilidade, em suma, tempo e espaço. Uma relação algo fútil, sem grande profundidade, que teve, no entanto, momentos felizes e divertidos.





Começava a acreditar neles quando a autora me diz:
- E é isto. Acabou.
Eu perguntei:
- Já?
E ela impingiu-me o primeiro capítulo do próprio volume.
-Diverte-te com a Emma.

Pontos positivos: Gostei bastante do passado da Mac, da sua relação com a mãe e dos seus complexos e problemas de confiança/segurança devido a isso. Gostei da personagem, da sua relação com as amigas e da profundidade do seu meio profissional.
O Carter é um nerd querido e fofinho, muito bem construído.
O Bob é um amigo cómico e eu ri-me bastante com ele e com as suas listinhas de deveres.
As amigas de Mac têm também as suas próprias personalidades vincadas e eu estou curiosa para conhecer mais delas. São verdadeiras amigas, sempre presentes numa tempestade, por isso pontos para elas.

Pontos negativos: Para uma pessoa insegura e desconfiada, que passa a vida sem saber o que fazer à vida - avançar/recuar? amar/detestar? Mac mudou de atitude muito repentinamente, no final da história. Percebi que era o final pelas conclusões previsíveis da personagem, em relação aos seus próprios sentimentos, mas pareceu-me que a história tinha sido cortada forçadamente, por um motivo que desconheço. Será o caso? Um maior aprofundamento da relação amorosa entre os dois protagonistas e um desacelerar da narrativa em direcção ao final tão ansiado teria valido pontos à história, que é engraçada, divertida e está bem escrita, mas...faltou-lhe alma. Nora Roberts é capaz de bem melhor.
Read More

domingo, 11 de maio de 2014

Opinião «A Chama ao vento» - Carla M. Soares

Mais uma vez, Carla Soares não desiludiu, pelo contrário, surpreendeu. Li a sua primeira obra, «Alma Rebelde», e não me tendo arrebatado, gostei imenso e estava ansiosa para ler o seu novo romance, quando lhe vi o brilhozinho nas redes sociais. Apressei-me a comprá-lo e ainda tenho um sorriso nos lábios ao recordar a obra, que terminei há pouco.
 
 


Uma coisa que adoro na autora é a sua capacidade de se reinventar, de assumir tantas cores quanto um camaleão, mudando de pele e de personalidade como quem muda de roupa. Escreve géneros literários distintos e é admirável que o faça com mestria, em cada trabalho.

Este é um romance que se divide em duas partes: presente e passado, os estilos contemporâneo e histórico a envolverem-se numa dança brilhante, que me deixou com os olhos pregados nas páginas e as ideias bem longe da realidade e presas à história. Primeiro, aquele início: Um corpo é atirado ao mar...que corpo? Prendeu-me e quando dei por mim, com as algemas bem presas aos pulsos, já não conseguia libertar-me. Tive de esperar muito tempo para perceber a que se referia a autora com este princípio de história, mas valeu bem a pena a espera. Foi um golpe de mestre.

Francisco, o personagem principal, cativou-me desde o princípio, com aquela personalidade peculiar, fruto de muita coisa mal resolvida que o leitor vai descobrindo ao longo da leitura. Conheço uma pessoa muito parecida e talvez por isso me tenha identificado tanto com ele. Também sofri muito ao colocar-me na sua pele de menino abandonado. Adorei-o, adorei a Teresa e a relação que mantinham, e quando o passado se impôs entre os dois, senti a sua ausência na história. Não foi uma coisa negativa. Era uma saudade boa, que ia sendo colmatada com a verdade de Francisco, a vida da avó, Carmo, e Dekel, que me destroçaram o coração, e o pobre João, para quem desejei sempre mais do que aquilo que teve.

Todo o livro foi chama, não a chama extinguida do olhar de Carmo, mas a chama sempre acesa daquilo que foi um dia. O vazio e a solidão das personagens eram sempre colmatados com amor e amizade, momentos ousados que a autora soube desenhar ao longo das páginas.

Depois, a vertente histórica: Todo o passado foi bem retractado, com elementos históricos bem definidos no seio da segunda guerra mundial: a excitação das gentes de Lisboa, o medo dos que sabiam, a inocência dos que ainda viviam nos tempos de ouro, vendo tudo, mas fingindo não ver. E no meio de tudo isto, um amor que me partiu o coração e que explicou, de muitas formas, a maneira como uma chama pode ser apagada com a força do vento.

Acho que as analepses que caracterizaram toda a história foram muito bem metidas, cativando sempre o leitor a ler mais e mais, dando-lhe apenas pedaços de verdade, que só servem para o tornar impaciente.

Gostava de ter visto mais de Francisco e Teresa. Apesar dos poucos momentos que passaram juntos ao longo da história, prenderam-me com uma química muito especial e eu adoraria que a autora pegasse na continuação desta história e que os desenvolvesse, mostrando, ao leitor, a forma como Francisco acabou por lidar com as barreiras que destruiu em torno de si próprio. Estas acabaram por cair-lhe aos pés e Teresa entrou no seu mundo com a sua permissão. Mas será assim tão fácil? Francisco ergueu à sua volta muros altos e inquebráveis e eu gostaria de saber como lidaram ambos com este novo Francisco.

Por fim, a escrita: Não é novidade. A escrita da autora é sublime, bonita, fluída, com recurso a metáforas fantásticas, que eu adorei. Era um livro que merecia ter um destaque maior em papel. O leitor que tiver acesso a ele, quererá tê-lo na estante e espero que a editora possa apostar nisso.

Recomendo e quero mais livros da autora! :D
Read More

Fotografia

As fotografias são da autoria de Rui Canelas.
Com tecnologia do Blogger.

© Carina Rosa , AllRightsReserved.

Designed by ScreenWritersArena